A IMPORTÂNCIA DE NOS ATENTARMOS A RESPIRAÇÃO DO PACIENTE

December 4, 2024

A respiração é um processo vital que impacta diretamente a saúde geral do organismo, incluindo a saúde bucal. A maneira como respiramos pode influenciar a morfologia facial, a posição dentária e até mesmo a ocorrência de patologias esqueléticas e oclusais. Nesse contexto, a respiração inadequada, especialmente a respiração oral, tem sido associada a uma série de problemas estomatognáticos. Este artigo visa explorar a importância da respiração correta na odontologia, os efeitos da respiração inadequada na cavidade bucal e os problemas esqueléticos que podem prejudicar a respiração.

A respiração nasal é considerada a forma mais fisiológica e benéfica de respiração, pois filtra, aquece e umedece o ar antes que ele chegue aos pulmões, além de promover a oxigenação adequada do organismo. A respiração nasal também desempenha um papel crucial no desenvolvimento da cavidade bucal e das estruturas faciais, uma vez que mantém a posição adequada da língua e favorece o crescimento correto das arcadas dentárias. Por outro lado, a respiração oral, muitas vezes associada a obstruções nas vias aéreas superiores, pode gerar uma série de consequências adversas tanto para a saúde bucal quanto para a posição e alinhamento dentário. Quando se torna habitual, a respiração bucal pode levar ao desenvolvimento de várias patologias bucais, como:

  1. Xerostomia (Boca Seca): A respiração pela boca provoca o ressecamento excessivo das mucosas orais, resultando em xerostomia, uma condição que pode causar desconforto, dificuldade para engolir, aumento do risco de cáries, doenças periodontais e lesões traumáticas nas mucosas. A saliva é responsável pela proteção da cavidade bucal, ajudando na remineralização do esmalte dental, na defesa contra microrganismos patogênicos e ainda funciona como lubrificante para que os tecidos deslizem sobre os dentes sem a ocorrência de traumas.
  2. Alterações na Oclusão: A respiração oral constante pode interferir no desenvolvimento das arcadas dentárias, alterando a posição dos dentes e causando problemas de oclusão. A falta de estimulação nasal adequada pode fazer com que a língua não se posicione corretamente no palato, resultando em alterações nos arcos dentários, como mordida cruzada, mordida aberta e outros distúrbios oclusais. Esses pacientes geralmente apresentam face longa com o terço médio mais desenvolvido, palato profundo e maxila atrésica (estreita), além de falta de selamento labial, deixando a boca sempre aberta. A má oclusão dentária também pode reduzir o espaço para a respiração nasal, perpetuando o ciclo de problemas respiratórios e bucais.
  3. Aumento do Risco de Apneia do Sono: A respiração oral também está frequentemente associada à apneia do sono, uma condição em que a respiração é interrompida durante o sono, causando distúrbios no descanso e no processo de oxigenação. A apneia pode agravar problemas dentários, como bruxismo e desgaste dental, além de interferir na saúde geral do paciente.

Além disso, problemas esqueléticos podem contribuir para a obstrução das vias aéreas superiores e prejudicar a respiração nasal. Entre os principais fatores estão:

  1. Disfunções na Articulação Temporomandibular: Problemas na articulação temporomandibular podem alterar a posição da mandíbula e afetar a abertura das vias respiratórias.
  2. Escoliose e Alterações Posturais: Alterações posturais, como a escoliose, também podem ter impacto direto nas vias respiratórias. A curvatura inadequada da coluna vertebral pode comprimir os órgãos responsáveis pela respiração e interferir na posição da mandíbula, dificultando a respiração nasal. O tratamento odontológico e fisioterápico pode ser necessário para corrigir esses problemas esqueléticos.
  3. Atresia Maxilar: Caracterizada pelo desenvolvimento inadequado da maxila, pode resultar no estreitamento das vias aéreas superiores. Isso pode causar dificuldades respiratórias, como apneia do sono e respiração bucal crônica, além de afetar a oclusão dentária.
  4. Retrognatismo: Condição em que a mandíbula está em uma posição mais posterior (mais atrás), podendo causar dificuldade respiratória, já que a mandíbula pode invadir o espaço das vias aéreas. Nesses casos, é importante que o dentista solicite uma radiografia de perfil, exame simples e acessível que pode mostrar se a mandíbula está avançando no espaço das vias aéreas. Caso o paciente apresente essa condição, ele deve ser encaminhado a um cirurgião bucomaxilofacial para a realização de uma cirurgia de avanço de mandíbula, liberando as vias aéreas e permitindo uma respiração mais eficiente.

Os tratamentos ortopédicos, ortodônticos e orto-cirúrgicos desempenham um papel crucial na correção dos problemas de oclusão que afetam a respiração. Ao corrigir a posição dos dentes, da maxila e da mandíbula, contribui-se para a melhoria da respiração nasal e para a prevenção de patologias bucais associadas à respiração oral. Além disso, profissionais de odontologia devem estar atentos aos sinais de respiração inadequada em seus pacientes, como boca aberta, respiração ruidosa e lábios ressecados, além de investigar na anamnese se o paciente ronca ou apresenta apneia obstrutiva. A detecção precoce desses sinais pode ajudar a evitar o desenvolvimento de complicações mais graves.

A respiração correta é essencial não apenas para a saúde geral do organismo, mas também para a manutenção da saúde de todo o sistema estomatognático. A respiração oral crônica pode levar a uma série de patologias bucais, como xerostomia, cáries e problemas de oclusão dentária. Além disso, disfunções esqueléticas podem contribuir para a obstrução das vias aéreas superiores, dificultando a respiração nasal e exacerbando os problemas relacionados à respiração inadequada. Profissionais de odontologia desempenham um papel fundamental na identificação e no tratamento de problemas respiratórios que afetam a saúde bucal. A correção de distúrbios oclusais e a promoção de hábitos saudáveis de respiração podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, prevenindo doenças e promovendo o bem-estar geral. Em muitos casos, é necessário lançar mão de tratamentos multidisciplinares, envolvendo dentistas, otorrinolaringologistas e fisioterapeutas. Afinal, de nada adianta resolver os problemas bucais se o paciente continuar respirando pela boca, já que isso certamente levará à recidiva. É fundamental que a condição bucal seja tratada e que a respiração nasal seja restabelecida para o sucesso do tratamento.

Gostou deste conteúdo?
Gostaria de conversar conosco sobre este assunto, ou marcar uma consulta? Clique no link abaixo:
Agendar Consulta