A gente vive uma era em que um vídeo no consultório pode alcançar milhões em segundos. Um antes e depois, uma transformação estética, um relato emocionante e, de repente, ali está você: viralizando. Mas entre o conteúdo que engaja e o que respeita, existe uma linha. E ela nem sempre é visível quando os números sobem.
Esse blog não é uma crítica ao uso das redes. Eu mesma compartilho informações, reflexões e momentos da minha rotina com muito orgulho. Mas é, sim, um convite à consciência. Porque quando a gente trabalha com saúde e principalmente com a saúde do outro o impacto de um post vai muito além do que aparece na tela.
Por mais que o resultado de um tratamento estético emocione, ele não é um troféu. A história por trás daquele sorriso é feita de vulnerabilidades, inseguranças, medos, expectativas e confiança. E confiança, uma vez exposta sem critério, pode virar constrangimento.
“Mas o paciente autorizou!” Sim, ele assinou. Mas será que ele compreendeu?
Será que a pessoa, naquele momento de empolgação com o resultado, conseguiu dimensionar que aquele vídeo se tornaria viral? Que seu rosto, seus dentes, sua história pessoal, poderiam ser debatidos, criticados ou ridicularizados por completos desconhecidos?
A exposição no consultório não pode ser tratada como uma estratégia de marketing qualquer.
Porque ela envolve pessoas reais. E mais do que isso: envolve o momento mais íntimo da relação clínica, o cuidado.
Transformar esse momento em performance, sem o devido cuidado, é fácil de fazer… e difícil de desfazer.
Pior: a pressa por engajamento pode fazer com que a gente romantize resultados, oculte riscos e, no limite, alimente uma cultura de promessas estéticas impossíveis de sustentar.
E é aí que o buraco é mais fundo. Porque o que viraliza, educa. Ou deseduca. Se todo post mostra apenas resultados “perfeitos”, transformações radicais, harmonizações sem contexto, o público começa a achar que aquilo é o padrão. E colegas de profissão, especialmente os mais novos, começam a se sentir pressionados a fazer o mesmo, mesmo quando sentem que aquilo não está certo.
Sim, é possível comunicar com leveza, beleza e ética. É possível mostrar resultados com critério, compartilhar bastidores com responsabilidade, explicar sem expor.
E mais: é possível crescer nas redes sem perder a essência. O segredo não está em viralizar. Está em sustentar o que você posta com o que você vive no consultório.
A internet passa. Os números sobem e descem.
Mas o que fica é a forma como você conduz sua profissão. E eu acredito profundamente que é possível ser atual, presente e estratégico nas redes… sem nunca esquecer que antes de um bom post, existe um bom cuidado.
Se você também acredita nisso, compartilhe esse texto com quem precisa ouvir. Porque o futuro da odontologia ética se constrói agora post a post, escolha a escolha.