Talvez essa seja uma das frases mais comuns que eu ouço no consultório: “Doutora, eu fugi do dentista por anos.” E, na maioria das vezes, ela vem acompanhada de um pedido de desculpas, de vergonha, de medo ou de tudo isso junto. Evitar o dentista por muito tempo é mais comum do que parece. E quem nunca passou por isso, dificilmente entende o peso emocional envolvido nessa decisão. Não é só sobre o procedimento. É sobre a história por trás dele.
Muitos pacientes carregam traumas antigos, experiências ruins ou lembranças de atendimentos frios, impessoais, dolorosos. Outros passaram a vida ouvindo que ir ao dentista “era caro”, “só servia pra quando doía” ou “era um luxo”. Sem contar aqueles que se acostumaram a viver com desconforto, achando que dor de dente era normal.
Quando tudo isso se junta, cria-se um ciclo difícil de quebrar. Quanto mais tempo passa, maior a vergonha. Maior o medo. Maior a sensação de que o problema ficou “grande demais pra resolver”. E é nesse ponto que a odontologia precisa ser mais do que técnica. Precisa ser humana.
Existem muitos motivos para alguém evitar o dentista. Mas alguns são mais frequentes do que a gente imagina:
A ausência prolongada não é preguiça. É, muitas vezes, uma defesa emocional construída com o tempo.
Escuta.
Acolhimento.
Respeito ao tempo dele.
Quando um paciente diz que ficou anos sem ir ao dentista, ele está, na verdade, compartilhando uma vulnerabilidade. E a nossa postura como profissionais pode ou quebrar o ciclo… ou reforçá-lo.
Julgar, pressionar ou ignorar a história daquele paciente só vai aumentar a barreira. Mas acolher com verdade pode fazer daquela consulta o início de uma nova relação com a odontologia mais leve, mais respeitosa, mais duradoura.
Quando o paciente percebe que está seguro, ele baixa a guarda. E, aos poucos, o medo vai dando lugar à confiança.
Muitos pacientes que evitam o dentista há anos chegam com pressa de “resolver tudo logo”. Mas o emocional ainda está em estado de alerta. Por isso, muitas vezes, a nossa missão na primeira consulta é só essa: mostrar que vai ser diferente.
Explicar. Tranquilizar. Planejar. Fazer com que aquele paciente volte não porque “precisa”, mas porque quer.
Se faz tempo que você não vai ao dentista, essa é a sua lembrança: você não precisa se justificar.
Você não é o único. Você não está atrasado. Você ainda está a tempo de cuidar de você.
Só o fato de reconhecer que precisa recomeçar já é um passo enorme. E um bom profissional vai te ajudar a seguir esse caminho com acolhimento e respeito.
Evitar o dentista não é apenas uma questão de saúde bucal. É, muitas vezes, uma proteção emocional contra algo que causou dor, vergonha ou medo no passado. Mas esse ciclo pode ser quebrado. Com empatia, escuta, leveza e conexão.
E se você é dentista, lembre-se: Cada paciente que retorna depois de anos longe do consultório carrega mais do que um dente a ser tratado carrega uma história. Seja o profissional que ele precisava ter encontrado antes.