Redução da Dimensão Vertical: implicações funcionais, estruturais e morfológicas no sistema estomatognático

September 17, 2025

A dimensão vertical (DV) é um parâmetro fundamental para o equilíbrio funcional do sistema estomatognático. Ela representa a distância entre um ponto na base do nariz até outro na base do queixo.   E é  sustentada essencialmente pela integridade das estruturas dentárias e pela oclusão funcional..

A redução dessa dimensão, por motivos fisiológicos ou patológicos, pode desencadear uma cascata de alterações clínicas que envolvem desde o colapso oclusal até prejuízos na  estética facial. O tema exige atenção crítica do cirurgião-dentista, especialmente no contexto de reabilitações extensas e tratamentos em pacientes com desgaste severo ou perdas dentárias múltiplas.

Etiopatogenia da perda da DV: multifatorial e progressiva

A diminuição da dimensão vertical raramente acontece de forma abrupta, exceto em casos de extrações totais de ambos os arcos, o que atualmente é bastante raro dentro da odontologia responsável. Na maioria dos casos, ela é o resultado de processos degenerativos crônicos como:

  • Bruxismo severo (parafunção noturna ou diurna): leva ao desgaste progressivo de estruturas coronárias.

  • Desgastes erosivos por causas extrínsecas (dieta ácida) ou intrínsecas (refluxo gastroesofágico, bulimia).

  •  Perdas dentárias sem reabilitação: que causam colapso posterior e sobrecarga dos dentes anteriores.

  • Próteses removíveis ou fixas mal planejadas, que não  restabelecem corretamente os parâmetros oclusais.


Esses fatores se combinam a alterações neuromusculares adaptativas, levando a um novo padrão de fechamento mandibular, muitas vezes patológico.

Manifestações clínicas da redução da dimensão vertical

O comprometimento da DV impacta não apenas a oclusão, mas a arquitetura funcional e estética do paciente. Entre as manifestações clínicas mais recorrentes, destacam-se:

  • Alterações faciais estruturais
    A redução do terço inferior da face resulta em sulcos nasogenianos acentuados (rugas popularmente chamadas de “bigode chinês”), inversão do sorriso (sorriso “triste”), aproximação do nariz e queixo alterando o  perfil, causando uma   aparência de envelhecimento precoce.
  • Desorganização oclusal
    Com a perda de estrutura dentária, observa-se a migração, extrusão e giroversão dos dentes remanescentes.
  • Alterações fonéticas e funcionais
    A perda da DV compromete a pronúncia correta de fonemas, o paciente pode falar de forma sibilante, ou seja, deixar escapar pequenos assovios quando falam palavras com “S”ou “Z”., além de impactar na mastigação, deglutição e no selamento labial adequado (lábios ficam extremamente finos)..

O diagnóstico deve ir além da estética

Diagnosticar a perda de DV exige abordagem clínica e funcional minuciosa, incluindo:

  • Avaliação morfofuncional do terço inferior da face

  • Registro e análise da dimensão vertical de repouso (DVR)

  • Avaliação de espaço funcional livre (SFL)

  • Montagem em articulador semi ajustável

  • Análise fotográfica e de vídeo

  • Enceramento diagnóstico e mock-up para testes funcionais

Recuperar DV não é “aumentar altura”: é restabelecer equilíbrio

O restabelecimento da DV é um dos maiores desafios da reabilitação oral complexa. Envolve uma intervenção em cadeia, que precisa respeitar os limites da estética e da adaptação muscular e articular do paciente.

Os principais pilares clínicos incluem:

✔️ Enceramento diagnóstico funcional
✔️ Teste de mock-up com provisórios de longo prazo
✔️ Ajuste progressivo com reabilitação segmentada
✔️ Registro oclusal dinâmico com guias funcionais
✔️ Terapia miofuncional quando necessária
 

Toda reabilitação deve ser baseada no conceito de planejamento reverso, onde a estética e a função guiam as decisões protéticas, e não o contrário.

O preço do colapso: uma questão de tempo e negligência

Em muitos casos, a perda da DV é subdiagnosticada ou banalizada, especialmente em pacientes idosos, edêntulos ou com queixas “estéticas”. No entanto, as consequências são cumulativas e, muitas vezes, irreversíveis quando não tratadas a tempo.

Recuperar a DV é mais do que devolver dentes bonitos: é restaurar biomecânica, estética e função. A odontologia reabilitadora moderna precisa sair do modelo meramente restaurador e abraçar uma abordagem ampla, preventiva e interdisciplinar.

Se você atende pacientes com desgaste severo, próteses antigas e colapso do terço inferior da face , não ignore a possibilidade de perda de dimensão vertical. Um bom diagnóstico  vai proporcionar ao Seu paciente o tratamento correto e duradouro..

A odontologia não é só sobre dentes: é sobre função, estética e saúde global.

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